Friday, January 16, 2009

Ontem fui à loja de discos Marché. É a melhor loja de vinis que freqüento, tanto pelas ofertas quanto pela qualidade da música e pelo estado dos discos. Ela fica escondida ali na rua Matheus Grou, no nº 634, com uma vendedora emburrada que parece passar os dias solitários trancada com uma porrada de bolachas em caixas de madeira que vão até o teto, isso em dois andares. É possível encontrar muitas raridades, basta fuçar com paciência. O ideal é ir sozinho mesmo, para ninguém te apressar. Ontem mesmo eu peguei um Fausto Fawcett e os Robôs Efêmeros, 4 Charlie Parker, um Bo Diddley, 4 coletâneas de Rhythm & Blues duplas com coisas do The Drifters, Joe Tex, Ray Charles, e algumas coisas de soul e doces harmonias countries. Só papa-fina, mosca branca. Vale muito a pena, sobretudo porque além da caralhada de discos que você pode encontrar lá, eles ainda te dão 50% de desconto no valor final, assim, peguei 23 discos por 103 dinheiros. Que alegria. Voltei pra casa todo pimpão e passei o resto do dia curvado sobre a vitrola, envolto numa fumaça azul de cigarros, empunhando uma flanela laranja para lustrar minhas novas aquisições e escutando o som alto, bem alto.

Thursday, January 15, 2009

talarico

Meus amigos ligam preocupados com minha saúde. A verdade está mal contada. Calma, bonecas. Eu tô benzão. O doutor apenas me disse que meu fígado está um pouco debilitado. nada demais. Como meu final de ano foi agitado e com todos os anti-inflamatórios, antibióticos e jujubas que tomei durante e após a cirurgia que fiz pra diminuir o pau, o coitado arriou, o fígado. Isso não significa nada. Eu não sinto nada. Apenas um exame que me disse que peralá, rapaz. Preciso agora ficar 1 mês sem beber. Grande bosta, ficar sem beber não significa que estou doente, posso ficar como um pamonha ali no canto tomando um suco de caju e sorrindo pras pessoas, sem estar doente. Fingir que está tudo bem divertido, sem estar doente. Mas não pretendo fazer isso. Vou ficar em casa, agora tenho uma desculpa para mim mesmo. Assim, logo mais, refaço o exame e vejo se o figo melhorou, o que é bem provável, segundo o doutor, e depois, recuperado, posso varar noites por ai, diabólico, e beber até cair de cara no chão, ficar feião, boneco doido, tá ligado, magro? fuder com a tua vidinha de merda, meter a vara nessas bonecas do sistema, botar teus filhos na droga, certo, tru? 

Friday, January 09, 2009

revolt trio
Sem grandes imprevistos ou contratempos graves - a não ser algumas brigas, ressacas doentias e uma tentativa de assalto frustrada– e após rodarmos quase 5000 quilômetros, voltamos à Sampa anteontem à noite. Eu, Cabeça e Guizé conseguimos atravessar o Sul do Brasil e o Uruguai para conhecer Montevidéu. Foi um rolê do caralho. Com estradas sossegadas e outras que exigiam total concentração, o que terminava num desgaste absurdo no fim dos dias em que passávamos na estrada e nas paisagens em movimento. Deslizando pelas BRs e pelas rodovias uruguaias, paramos em Curitiba, Balneário Camburiú, Praia do Rosa, Rosário do Sul – onde ficamos num bangalô podre e cheio de moscas varejeiras ao lado de uma whiskeria fedorenta na beira da estrada -, Montevidéu, Las Palomas, Pelotas e Curitiba novamente.
a estrada

O sol tostou minha pele e hoje descamo como uma cobra, cheguei a ficar roxo, depois vermelho pimentão, hoje estou da cor do pecado, quase mameluco. Levamos um estoque de coisas que por pouco não acaba na primeira noite, quando ficamos rodando a pé pelo centro de Curitiba até voltarmos ao hotel mais barato da cidade para sermos praticamente expulsos pela bagunça e falta de senso.

Montevidéu

A parte mais interessante, sem dúvida, foi Montevidéu. Apesar da clara antipatia dos uruguajos para com os brasileiros e da desconfiança da gostosinha que trabalhava no hotel em que nos hospedamos e de toda a loucura e o delírio que passamos pelas ruas da Ciudad Vieja, tudo correu bem, embora alguns hematomas tenham surgido, claro.

Cidade Velha, Montevidéu
No primeiro dia do ano, com o céu completamente encoberto por nuvens negras e o vento minuano sujo soprando frio na carcaça e levantando o lixo acumulado, fiquei caminhando sem rumo por todas as ruas desertas da Cidade Velha. Um silêncio de cemitério. Um local carregado de histórias ancestrais, com casas muita antigas e ruas estreitas, pessoas com descendência indígena e tudo cercado pelo oceano cor de chumbo e revolto do Atlântico. Enquanto meus
compadres dormiam, eu caminhava, sozinho, sentindo nada, apenas a satisfação de ser um forasteiro num lugar estranho. Sentia-me num filme de Kieslowski com uma garrafa de vinho vagabundo e a câmera fotográfica nas mãos, sendo interpelado, por onde quer que vagasse, pelos mesmos mendigos, um deles que insistia em me vender uma porcaria de uma guitarrinha feita com arames e um alicate, um verdadeiro espectro. Depois fiquei sentado numa praça, com minhas roupas encardidas, like a rolling stone, minhas unhas imundas e meu cabelo crespo totalmente desgrenhado pelo vento, rambling man, com saudades não sabia do quê e o fôlego falho.
Depois passamos de carro por Punta Del Este, mas ficamos apenas observando, que nem crianças na vitrine de uma loja de doces, todos aqueles iates e porsches e as cocotas mais belas da América do Sul, gangues delas com seus cortes de cabelo arrojados e coxas lisas e macias como veludo. Em Las Palomas fomos beber num farol beira-mar, com o céu coberto de estrelas e nebulosas, quando fomos confundidos com molestadores de menores por um grupo de extermínio responsável pela segurança dos playboyzinhos uruguaios. Eram alguns brutamontes bicudos que nos seguiram por um tempo. Eu achei que fosse ser fuzilado por ali. Inclusive quando pensava equivocadamente que ninguém me observava mais e eu simulava uma ejaculação com uma garrafa de cerveja de 1 litro e gritava: motherfucker, baby! Algo bem headbanger boboca mesmo. A coisa piorou quando amanheceu. Como não havia lugar algum para se hospedar, dormimos no carro, o que deixou um cheiro escroto de humano podre na barca, enquanto isso, nas ruas, centenas de bêbados ricos e acéfalos tocavam o terror. A polícia nada fazia, parecia pensar: deixem esses moleques se divertirem agora no verão, depois, quando eles crescerem, vão cursar uma nobre faculdade para se tornarem adultos imbecis e se lembrarem desses tempos de loucurinha que tiveram nessa praia. Eu desejava mesmo era que todos se matassem ali, nada mais natural. Eu desci ali, de chinelos e uma bermuda toda furada, apavorado, olhando ao redor à procura de alguma arma que pudesse me defender de possíveis agressores. Brutal. Preferimos ir embora antes que qualquer encrenca nos farejasse.
Na volta, já em Curitiba, nós 3 fizemos mais do mesmo, e caminhamos pela cidade até amanhecer, onde conhecemos o Lovestory e o Amistosas genéricos da cidade, o NightStory e o Café Madrugada, respectivamente. Lugares fedorentos, da bandidagem e dos policiais civis de cavanhaque brigando com as bochechas para fazer cara de mau, das putas escandalosas e sebentas. Foi divertido, inclusive um acidente bisonho que presenciei na porta de um desses lugares. Voltamos pra Sampa e fomos matar a saudade dos amigos, só que não encontramos nenhum.

as fotos foram tiradas pelo Cabeça

Thursday, January 08, 2009

Eu não sei mais. Não sei mais nada. Sei apenas que existe algo de misterioso comigo. Alguma coisa dentro de mim que me força a caminhar pro lado contrário. Um grande vazio que me preenche e me assalta quando volto pra casa e fico imóvel olhando as paredes. Completamente só. Dissolvo-me em meu canto. Releio os poemas que me cortam como guilhotina num silêncio estilhaçante. Me olho no espelho e aceno um adeus. Um grande conforto. Às vezes saio por ai. Eu e meu sorriso enlatado. Fico observando as coisas e as pessoas e a cidade iluminada. Dirijo por toda a madrugada tentando fugir em círculos, pensando em saltar rumo ao desconhecido. Irremediavelmente perdido. Algo que me entusiasma e me apavora ao mesmo tempo. Às vezes alguns amigos vêm me visitar. Eles me contam sobre seus planos e projetos. E gesticulam bastante. Eu fico em silêncio até me sentir cansado. Chego a ficar constrangido. Depois peço que vão embora. Gosto mesmo da suavidade da solidão. Da serenidade que sinto quando estou inexplicavelmente triste.